Entre Quatro Sentenças


Entre Quatro Sentenças

Música: Tristania

Durante a música os quatro permanecem deitados. Levantam um por um, Agostina, Clemente, Luisa e Galiléia.

A música termina e todos se olham:

Agostina: Quem são vocês?

Luísa: Essa não é a pergunta. A pergunta é onde estamos!

Galiléia: Não tem portas nem janelas aqui!

Agostina: Quem me prendeu aqui?! Quero sair! Onde estou?

Luísa: Quem são vocês?

Galiléia: Vocês inverteram as perguntas, mas ainda não têm resposta!

Agostina: Eu preciso sair daqui! Eu preciso! Eu preciso!

Luísa: Alguém aí fora! Abra um buraco! Quebre essa parede!

Todos batem desesperadamente nas paredes enquanto Clemente pega um livro do chão. Elas gritam “Socorro” até que Clemente reage:

Clemente: Chega de gritaria, ninguém vai escutar!

Galiléia: Como você sabe?

Luísa: ele é o único que não está e desespero! É você não é? Você nos prendeu aqui!

Agostina: O que é que você quer? Porque nos prendeu aqui?

Clemente: Porque sou um gênio do mau. Nem tão gênio, deveria ter me trancado com três modelos... Um pouco mais gostosas, e com vozes menos irritantes.
Luísa estapeia Clemente. Começa a bater em seu corpo e diz para que ele as tire dali. Agostina segura Luísa.

Clemente: É lógico que eu prendi vocês aqui! Não vê como estão sujas de cimento minhas mãos? Construí um cárcere por dentro!

Galiléia: Se você nada tem haver com isso, por que então está calmo?

Clemente: Não estou calmo, só não estou desequilibrado como uns e outros...

Luísa, exasperada, grita ao se ajoelhar no chão: “Meu Deus, me tira daqui!”

Clemente: Pode gritar o quanto quiser, seu amigo imaginário não vai te ouvir...

Agostina: Não crê?

Clemente: Não... E se crível for, foi ele quem te mandou pra cá.

Todas param por alguns segundos e Agostina pergunta: “ Aonde afinal você acha que estamos?”

Clemente: No inferno...

Luísa: Você está louco?

Clemente: Verdade, sua teoria de que eu construí esse quarto e engoli as ferramentas é mais crível.

Galiléia: Porque acha que estamos no inferno?

Clemente pega o livro nas mãos, começa a falar, depois o joga no chão.

Clemente: esse livro é a única coisa que tem nesse lugar,,, Entre quatro paredes, de Sartre... A história é similar, pessoas morrem e vão parar numa sala sem portas ou janelas.

Luísa: Então estamos mortos?

Clemente: Provavelmente não.

Agostina: Mas não acabou de dizer que...

Clemente: Sim, acabei de dizer a coisa mais insensata do mundo. Se ela ainda assim parece real, só há uma explicação.

Galiléia: Que é...

Clemente: Da próxiam vez, só whisky Escocês ...

Luísa: Será que você não consegue dizer nada que faça sentido?

Clemente: O Whisky vagabundo de ontem, eu sabia que ia me fazer mal. Com certeza é uma falência hepática... Estou em coma... Esse é meu sonho, o cérebro está reproduzindo o livro!

Luísa: Idiota, isso não é um sonho! Se fosse, eu não estaria sentindo nada!

Clemente: Ok! Vou sentar e esperar você me convencer disso!

Galiléia: Não me sinto como em um sonho... Me sinto estranha, mas não como em um sonho. Não sente que isso é real?

Clemente: É, tem algo muito estranho aqui se isso é um sonho.

Agostina: O que?

Clemente: Vocês não estão nuas...

Luísa: Você é um cretino!

Galiléia: Bem, e se estivermos mesmo mortos?

Agostina: Eu não consigo lembrar de nada a curto prazo.

Galiléia: Como vocês se chamam?

Luísa: Luísa

Agostina: Agostina

Galiléia: Galiléia

Luísa: Galiléia? Acho que você morreu queimada!!

Clemente: Esse foi Giordano Bruno, imbecil!!

Luísa: Ahhhh Sr. Historiador! Perdão! Agora dá para dizer seu nome?

Clemente: Isso faz alguma diferença?

Agostina: Estamos todos no mesmo barco... Não custa dizer.

Clemente: Talvez não... Vou alimentar meu subconsciente e aproveitar meu R.E.M. Meu nome é Clemente ... Clemente Mersaul

Galiléia: Clemente Mersaul? Não é advogado que escreve artigos na área empresarial?

Clemente: O próprio.

Agostina: Também é o cara que ninguém gosta, que vive gritando aos quatro cantos que o código de ética dos advogados é uma piada?

Clemente: É, eu gosto dessa descrição, mas eu prefiro quando também falam dos meus lindos olhos.

Luísa: Nunca gostei de você, preferia nem ter te conhecido.

Clemente: Que seja... Agora já sabemos que somos quatro advogados.

Luísa: Quem disse que não somos promotoras ou juízas?

Clemente: Os sapatos de vocês não parecem caros o suficiente... Vocês são advogadas, e não são boas o suficiente para ganhar bem ... também são do ramo comercial.

Galiléia: E isso você deduziu como?

Clemente: Minha imaginação faria vocês assim, ficaria mais fácil para que eu sempre tenha razão.

Agostina: Isso não é um sonho!

Clemente: Ta, vou me sentar novamente e esperar você me convencer disso.

Galiléia: Que seja, fato é que eu sou mesmo advogada do ramo empresarial.

Agostina: Eu também

Luísa: eu também

Galiléia: É, com certeza, o ramos mais interessando do direito!

Entra música 1 – Surgimento

Galiléia:
Desde a idade média
O comércio se intensificou
A burguesia e os artesões
Criaram então as corporações
De oficio

O direito comercial
Nasceu com um certo subjetivismo
Era classista e corporativista
Amparava apenas artesões
E comerciantes das corporações

Agostina:
Vem então a revolução
As velhas normas não se sustentavam
Os juristas de Napoleão
Elaboraram um novo código
Baseado na teoria
Dos atos de comercio
Que definia o comerciante
Pelos seus atos e não pelo sujeito

Luísa:
Mas a maior revolução
Era mesmo a globalização
Então a velha teoria caiu
E uma nova fase começou
A teoria da empresa
Italiana ganhou louvor
O empresário é identificado
Levando em conta sua atividade
Tem que ser com habitualidade
Profissionalmente e organizada

Todas:
No Brasil a teoria foi adotada em 2002
Pelo novo código civil
Revogando parte do comercial
Sobrou apenas a segunda parte
Que regula o comercio marítimo


Luísa: Demorou mesmo para o Direito Civil fagocitar o Comercial

Galiléia: Não que tenha sido exatamente isso o que aconteceu... O Direito Comercial é autônomo

Agostina: Talvez o direito privado tivesse mesmo que ser unificado

Clemente: Você tem mesmo cara de Itaú... Você Bradesco e você... Fale um Banco bem fuleiro... Bamerindus!!! O tempo passa, o tempo voa, e você continua com essa voz de chata.

Agostina: Não faço idéia do que você está querendo dizer.
Clemente: Ora! Como unificar o direito privado se tratam as coisas tão diferentes? Você quer ser tratada como um banco? Acho que não!

Galiléia: Está certo! Cada um com seu cada qual! O Direito Tributário ou o Ambiental vão proteger o empresário? Acho que não! Que haja o Direito Empresarial.

Agostina: Talvez pudéssemos até ter Tribunais do comércio novamente!

Luísa: Quem sabe isso não organizaria a industrialização...

Clemente: Hoje não sei, mas se nunca tivessem sido extintos, talvez hoje a realidade fosse muito diferente.

Galiléia: Me lembro de alguma coisa!

Agostina: De como viemos parar aqui?

Galiléia: Não, me lembro de ontem mesmo, eu fui à uma Junta Comercial

Entra música 2 – Junta Comercial

Todos:
Junta comercial, não registrou vai se dar mal (3x)

Galiléia:
Antes do início de suas atividades
O empresário deve se registrar
A Junta Comercial
Tem natureza híbrida
São submetidas ao DNRC
No âmbito técnico são federais
Já nas questões administrativas
Subordinam-se ao poder estadual

Luísa:
Os seus atos principais são os de arquivamento
Abrangem os contratos e estatutos sociais
Bem como alterações, dissoluções e extinções
De uma atividade empresarial
Toada alteração de uma nova situação
Contratual tem o nome de averbação
O empresário ainda deve escriturar livros comerciais
Para adquirir valor probatório

Todos: Junta comercial, não registrou vai se dar mal (3x)

Agostina:
A atividade irregular
Gera sanções á quem não quis se inscrever
Não poderá se valer da recuperação
Judicial nem pedir falência do devedor
Não poderá ter seus livros autenticados
Nem poderá participar de licitações
Responderá solidária e ilimitadamente
Pelas obrigações sociais
Não vai ter CNPJ, não vai poder se cadastrar no INSS e Microempresa não vai ser

Todos: Junta comercial, quem não registrou vai se dar mal! (6x)


Galiléia: Eu precisava autenticar o livro de uma empresa... Mas não consegui, só me lembro que saí de lá correndo para buscar outro documento.

Luísa: Com certeza você ia autenticar o livro diário, o Código Civil reza essa obrigação!

Agostina: Talvez fosse o livro de um empresário rural... ele não estaria obrigado a escriturar o livro...

Galiléia: Por que eu sai correndo então?

Agostina: Porque você tinha outro compromisso, oras!

Clemente: Não, ela saiu correndo porque já deveria ser o meio da tarde e a junta fecharia às 17:00
Agostina: E porque ela teria pressa de voltar à Junta?

Clemente: Porque ela precisava voltar com o livro caixa...

Galiléia: É verdade, me lembro que fui buscar o livro caixa...Era uma microempresa.

Luísa: Optante pelo simples?

Galiléia: Sim, por isso eu estava com o livro errado

Agostina: Também me lembro de algo... era um microempresário, estava em meu escritório

Luísa: E se lembra do que ele fazia?

Agostina: Queria fazer um contrato de Trespasse. Ele ia alienar seu estabelecimento empresarial.

Entra música 3 – Estabelecimento

Agostina:
Não confunda estabelecimento
Com empresa, que é a atividade
Estabelecimento comercial
É o complexo organizado
De bens móveis e imóveis
Tanto faz se corpóreos ou incorpóreos


Luísa:
O valor do estabelecimento
Deve ultrapassar a soma dos bens
A alienação deve ser feita
Por um instrumento de compra e venda
Que é chamado de trespasse
O adquirente deverá assumir
A posição de empresa primitiva
Quanto às obrigações

Galiléia:
O título do estabelecimento
É o seu símbolo de identificação
Não se confunde com o nome empresarial
Cota de publicidade e proteção
Se registrado na Junta Comercial
O título pode ser alienado
Independentemente da alienação
Do estabelecimento empresarial


Luísa: É engraçado como as pessoas confundem o estabelecimento com o ponto comercial

Clemente: Confundem porque são ignorantes!

Agostina: São apenas pessoas comuns...

Clemente: Comum é a ignorância... Os advogados mesmo conhecem forma, mas ignoram conteúdo... São pernósticos

Luísa: Nossa, você adora causar a desídia entre as pessoas

Clemente: É exatamente sobre isso que eu falava quanto ao pernosticismo!

Luísa: Tem como falar em português?

Galiléia: Eu acho que ele quis dizer que as pessoas deveriam estar mais preparadas, só isso...

Clemente: Não, eu só quis dizer que as pessoas são ignorantes. Não deveriam estar mais preparadas, elas deveriam se preparar mais! A sintaxe da declaração é completamente discernente!

Agostina: Eu concordo com ele!

Clemente: Por que? Vou ter que achar uma opinião nova agora! Uma que ninguém concorde!

Agostina: As pessoas se acostumaram demais à mecanização das suas atividades. Agem como se fossem computadores programados para uma só função. É só mudar uma das premissas de funcionamento e lá vai...tela azul!!

Galiléia: Elas sabem o nome de todas as plantas, mas não conhecem o cheiro de nenhuma flor...

Clemente: Nossa, é um bonito jeito de chamar a humanidade de burra! Só vou falar assim agora... “Luísa, você é tão inteligente quanto uma borboletinha silvestre que percorre todo um campo de girassóis amarelos!”

Luísa: Estúpido!

Clemente: Você.

Luísa: Eu não! É você!

Clemente: Obrigado, passei condicionador hoje!

Luísa: Eu não entendo nada do que você diz!

Clemente: Faça uma passeata arcadista em nome do “inutilia truncat!

Luísa: Ah! Vai falar latim agora? É uma língua morta!

Clemente: Quem dera a sua também fosse...

Luísa: Eu sei falar “Carpe Diem”

Clemente: Parabéns, agora devolva para a locadora o VHS do “Sociedade dos poetas mortos” que já deve estar embolorado na sua gaveta!

Agostina: Porque vocês não param de brincar e tentam se lembrar de mais alguma coisa?

Clemente: Eu me lembro!

Galiléia: Do que?

Clemente: Misturei o Whisky com Red Bull, deveria estar muito louco mesmo... O cara  que mandou bombardear a Líbia não cometeu pecado tão funesto...

Luísa: Lembrar eu me lembro, mas as imagens não são claras

Galiléia: E do que é que você se lembra então?

Luísa: Só me lembro de estar ao telefone com alguém, falando sobre como registrar seu nome empresarial...

Entra música 4 – Nome empresarial

(Não foi feita ainda)

Agostina: Mas e você? Não se lembra de nada?

Clemente: Não faria diferença... Nada disso é real

Galiléia: Ou será que você não quer lembrar? Tem medo de saber que está morto?

Clemente: Não tenho medo de nada disso...

Luísa: Tem sim, por isso acredita mais que qualquer um de nós!

Clemente: Vocês acham mesmo que todo ateu não passa de um cavaleiro errante à procura de Deus? Que todo vampiro quer sangue? O tempo diz a que viemos, e nós dizemos ao tempo quantos grãos de areia caem da parte de cima da ampulheta. Se o tempo é a variável chave para o encontro das possibilidades, nos resta esperar e descobrir se sonho com essa eternidade, ou se ela deveria apenas ser um sonho, que não é.

Música: Longe: Arnaldo Antunes

That’s all folks =D



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